quinta-feira, 31 de março de 2016

Semeadores de Maravilhas, Parte 2 - A Amizade

Imeagem: Google


Não demorou muito tempo para que logo Tim ficasse interessado em chegar rapidamente ao Liceu. Trabalhando à poucos quarteirões, tão logo saia da empresa em poucos minutos já estava no hall de entrada, percorrendo os corredores com um rápido olhar para confirmar se Mel havia chegado (mesmo tendo a certeza de que ela nunca estaria ali naquele horário...).

Para amenizar a ansiedade, Tim ocupava seu lugar na mesa de ping-pong, onde raramente vencia as competições diárias, desatento que ficava por dividir a atenção entre a partida e a porta de entrada.
Bastava que Mel apontasse no corredor, para imediatamente Tim largar sua raquete com o próximo jogador e abandonar o jogo, subindo com rapidez a escadaria e juntos irem para a sala de aula.

As conversas nos degraus da escada eram cercadas de muitas risadas e momentos divertidos. Todos os colegas de turma os viam juntos, e houve até comentários do tipo: "- parecem namorados...", mesmo sem nunca terem sido vistos de mãos dadas.

Certo é que Tim, apesar de seu desprendimento nas conversas, não conseguia controlar sua timidez.

A amizade foi aumentando e logo a maioria do tempo disponível era usado por eles para compartilharem situações cotidianas. Ele comentava fatos de sua vida, atentamente ouvidos por Mel.

Ao final das aulas, os dois tomavam seus respectivos ônibus - que percorriam praticamente o mesmo trajeto - até se encontrarem novamente no dia seguinte...

terça-feira, 29 de março de 2016

Porque Hoje é o Dia


Imagem: Google

"Perdi vinte em vinte e nove amizades
Por conta de uma pedra em minhas mãos
Me embriaguei morrendo vinte e nove vezes
Estou aprendendo a viver sem você
(Já que você não me quer mais)

Passei vinte e nove meses num navio
E vinte e nove dias na prisão
E aos vinte e nove, com o retorno de Saturno
Decidi começar a viver

Quando você deixou de me amar
Aprendi a perdoar 
E a pedir perdão
(E vinte e nove anjos me saudaram
E tive vinte e nove amigos outra vez)"
Vinte e Nove, em "O Descobrimento do Brasil" 1993 Renato Russo
...

E hoje me lembrei que ao contrário do poeta,
Em um dia vinte e nove, ganhei
no calor do teu colo, o beijo desejado
De um dia pra sempre 
(29/10/2015)

domingo, 27 de março de 2016

Vinte e Três

imagem: Google

Ainda era madrugada e ele já fitava o relógio, na dúvida entre ligar ou não, e ser o primeiro a lhe desejar parabéns.

Vencido pelo receio de interromper seu sono, desistiu da ideia com uma ponta de frustração e tenta se aproximar do sono, sem conter as batidas aceleradas do coração pela ansiedade do amanhecer que separa as poucas horas de descanso, até que finalmente teclou os números, ouvindo as infindáveis três chamadas e escutar o suave "-oi..." do outro lado da linha.

O dia segue com o desejo de voltarem a se falar, pensamentos sobre como estaria sendo o seu dia, os momentos que viviam juntos, os abraços que tanto ansiava.

Para amenizar a dor da distância, ele vai ao parque da cidade para uma longa caminhada, olhos fechados e respiração profunda, intercalando o andar com corridas rápidas na expectativa de que cada passo pudesse levá-lo até seus braços, acelerando à exaustão, até abrir os olhos também na esperança de vê-la sentada no próximo banco, enquanto versos ecoavam em sua mente, enchendo-lhe os olhos: "teus pelos, teu gosto, teu rosto, tudo..."

E caiu, rendendo-se ao cansaço e à saudade.

Distância também dói. E muito.

quarta-feira, 23 de março de 2016

Vida

imagem: Google


Que a vida te seja simples

Com flores na mesa do café

E sonhos novos a cada manhã

Assim sejam teus dias!

Mas hoje, só hoje,

Que possas respirar a alegria

De ser o dia só seu...

segunda-feira, 21 de março de 2016

Janelas em Paris

imagem: Google


Bom dia é quando conversamos ao amanhecer.

Melhor ainda, o bom dia é quando falamos antes mesmo de dormir,

Palavras que fazem sorrir

E transportam o desejo

de conversar só com o olhar.

E ouvir seus poemas sem palavras,

escrito com beijos e abraços.

Da poesia sonhada

Naquelas janelas em Paris...

segunda-feira, 14 de março de 2016

Às Vezes...

Foto: Google

Às vezes eu me encontro comigo mesmo no centro da cidade, no meio da tarde, e me convido para tomar um chopp num bar à beira-mar, em pleno planalto central.

Reluto em aceitar convites assim tão inusitados, mas inexplicavelmente dou os braços para aquele menino, num misto de excitação e perplexidade: eu no centro da cidade, com tanta coisa por fazer, sentado comigo mesmo, a beber.

Daí ouço-me falar do tempo, misturando no temperamento jeans com cetim. A boca grande, alguns rompantes de criança, rindo do meu próprio dia a dia, eu vivendo assim. E sem ironias e julgamentos, deixo-me falar, com os olhos quentes latejando em mim.

Abato sem dificuldades os problemas entornados e novamente sorrio sem me ferir, deixando-me preencher com o vazio de ideias quando o assunto é qual caminho seguir.

E fico enlevado ali, eu comigo mesmo, me metamorfoseando num poeta, num pássaro, num contribuinte, num semeador, levando-me a acordar no outro dia numa bruta ressaca para ir trabalhar, mas com saudades...

Com uma imensa saudade do mar.

Adaptado da prosa poética "Jeans Com Cetim" - Carlos Edu Bernardes em Semente de Saudade, 2015

sábado, 12 de março de 2016

Pôr-do-Sol

Foto: R. Wickert at Toronto Pearson Airport

Todos os dias as pessoas esperam o pôr-do-sol.

Para contemplar poucos minutos da beleza,

Para desfrutar poucos minutos da paz,

Para respirar poucos minutos da tranquilidade,

Que da sua luz emana.

Eu também espero, 

Eu também desejo,

Eu também anseio,

E suspiro.

E quando isso acontece

Meu coração me lembra:

Eu tenho um pôr-do-sol.

Só meu...

quarta-feira, 2 de março de 2016

Semeadores de Maravilhas, Parte 1 - O Início

imagem: Google

Tim e Mel conheceram-se aos quinze anos de idade.  

De fato, seus caminhos se encontraram nessa época, durante o início do ano de 1979, quando o destino os uniu de locais tão distantes para o mesmo Liceu;

Um dia, no início do ano, tendo chegado ao colégio com bastante antecedência, Tim permaneceu no hall de entrada aguardando os longos minutos que faltavam para o início das aulas, quando viu passar por ele duas garotas. 

Ele não conseguiu desviar seu olhar daquela menina de cabelos aloirados e presos, trajando uma camisa azul-celeste e jeans cinza claro, sorriso radiante, entretida em uma conversa animada com a amiga.

Intrigado, Tim a seguiu até a escada que dava acesso às salas, e para sua surpresa, ambas eram de sua sala.

Feita a sua parte, com o destino os colocando na mesma sala, em pouco tempo a amizade brotou das cadeiras das últimas fileiras para longas e animadas conversas em aula, mas principalmente na escadaria, pouco se importando com nada ao redor.

Ao final das aulas, tomavam ônibus de diferentes linhas que faziam, quem diria, praticamente o mesmo trajeto que os separava por apenas poucos quarteirões....