Foto: Google
Às vezes eu me encontro comigo mesmo no centro da cidade, no meio da tarde, e me convido para tomar um chopp num bar à beira-mar, em pleno planalto central.
Reluto em aceitar convites assim tão inusitados, mas inexplicavelmente dou os braços para aquele menino, num misto de excitação e perplexidade: eu no centro da cidade, com tanta coisa por fazer, sentado comigo mesmo, a beber.
Daí ouço-me falar do tempo, misturando no temperamento jeans com cetim. A boca grande, alguns rompantes de criança, rindo do meu próprio dia a dia, eu vivendo assim. E sem ironias e julgamentos, deixo-me falar, com os olhos quentes latejando em mim.
Abato sem dificuldades os problemas entornados e novamente sorrio sem me ferir, deixando-me preencher com o vazio de ideias quando o assunto é qual caminho seguir.
E fico enlevado ali, eu comigo mesmo, me metamorfoseando num poeta, num pássaro, num contribuinte, num semeador, levando-me a acordar no outro dia numa bruta ressaca para ir trabalhar, mas com saudades...
Com uma imensa saudade do mar.
Adaptado da prosa poética "Jeans Com Cetim" - Carlos Edu Bernardes em Semente de Saudade, 2015
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