Há tempos que Natan desejava realizar um antigo sonho, que era acampar. Acampar sozinho, experimentar a sensação de não depender de ninguém além de si próprio para fazer todas as coisas do dia, desde o acordar.
Boa parte disso já compõe sua rotina porém de forma entediante, e por isso, com o aproximar de um feriado prolongado, desta vez ele não hesitou e iniciou os preparativos. Pesquisou locais, conseguiu uma barraca, comprou colchonete e suprimentos para alguns dias em contato com a natureza.
Na madrugada de quinta-feira, o despertador alardeia que é hora de partir para a aventura. e ele que já havia deixado tudo pronto desde a noite anterior, toma um café, entra no carro e vai para a estrada ainda no escuro da madrugada. Céu claro, nenhum trânsito e uma música country embalam a viagem até o Vale da Pedras, na Serra da Mantiqueira, numa pequena reserva de Mata Atlântica.
A viagem dura poucas horas e ainda de manhã ele já se instala próximo ao mirante, que lhe possibilitará uma excelente visão de todo o vale. A fenda entre as montanhas parece haver sido desenhada para emoldurar aquele quadro diário, ao som das águas da cachoeira distante poucos metros, e do cantarolar de pássaros da região.
Tudo arrumado, ele sai para um passeio pelos arredores, que termina com um banho nas águas geladas do rio. Ao voltar, percebe haver outra barraca instalada bem próxima a sua. Ficou intrigado pois o espaço no mirante era tão amplo... Mas tudo bem, até por questão de segurança naquele local ermo, seria preferível mesmo dividir o espaço com mais pessoas.
Notou que seu vizinho era uma pessoa experiente em acampamentos, pois estava tudo organizado de forma bem prática, que ele não teve como não copiar algumas idéias que acabara de ver, e sentou-se para ler um livro. Recostado na mochila, acaba cochilando até ser acordado horas depois, por mãos que se colocam sobre seus olhos, como naquela brincadeira de criança.
Eram mãos femininas, suaves e com um leve aroma de ameixas. Rapidamente o susto pela inusitada surpresa vai passando e numa fração de segundos ele tenta adivinhar quem poderia ser, já que não comentara com ninguém deste seu acampamento. Mas o aroma do perfume não deixou dúvidas e ele se virou rapidamente, quase não acreditando ser ela.
Seus olhos se encontraram e um sorriso mútuo os dominou.
"- Mas como você descobriu??" ele perguntou, ainda sem acreditar em seus olhos.
"- Eu não descobri, meu querido. Eu apenas vim. Sabia apenas que seria especial, o que confirmei quando reconheci seu carro estacionado lá embaixo quando cheguei.
Agora vem, vamos ver o nosso pôr-do-sol..."
Guardaram tudo na barraca dele e, mãos dadas, caminharam para o mirante onde puderam contemplar o pôr-do-sol sem nenhuma porta ou janela de aeroporto.
Apenas o céu, e sem terem que se despedir,..
01/10/2016 (12...)