Naquela noite, Tim teve um sonho diferente dos outros.
Não era uma lembrança exata, nem uma invenção da mente. Era como se memórias e sensações se entrelaçassem em uma espécie de revelação. No sonho, ele estava outra vez no alto do Cristo Redentor, como naquele sábado distante.
O céu azul, pessoas passando por todos os lados, conversas animadas e uma suave brisa acariciando o rosto... e então, no meio de tudo isso, surgiu aquele sorriso que ele nunca se esquecera.
Era ela!!!
Cabelos loiros ao vento e aquele olhar doce, como da primeira vez.
Tim se viu ao lado dela, como se o tempo não tivesse passado, e então ela lhe disse com a mesma voz suave da infância:
- Você me encontrou. Só não sabia que era eu....
Quase que simultaneamente, ouviu a voz de seu pai ecoar:
"- Às vezes, a gente encontra as pessoas mais importantes da nossa vida sem saber desse detalhe. E às vezes, elas voltam quando a gente menos espera..."
Ele acordou num salto, com o coração disparado. Ficou um tempo sentado na cama, tentando entender como não percebera isso antes? Como não ligou os pontos entre a Mel do colégio e a Mel do mirante em sua cidade?
Quase dez anos tinham se passado desde aquele encontro, mas agora tudo fazia sentido.
E ele soube, ali mesmo, que não podia mais adiar. Precisava vê-la imediatamente. E já na noite seguinte, determinado, foi até a sua escola.
As mãos suavam. O coração batia como se anunciasse algo que ele ainda não sabia.
Esperou até avistá-la chegando no pátio. Estava linda, como sempre. Mas havia algo diferente em seu olhar. Um sorriso que parecia carregado de lembranças e de cuidado.
— Tim... que surpresa! disse ela com alegria sincera.
O reencontro foi breve. Os dois se cumprimentaram, trocaram algumas palavras, daquelas que dizem pouco, mas carregam muito sentimento, e Tim abriu seu coração, sem conseguir desviar seus olhos dos dela.
Até que ela soltando suas mãos com a delicadeza de quem não quer ferir, mas sabe que precisa ser honesta, falou:
- Eu... estou namorando agora.
Tim não conseguiu esconder sua dor, mas procurou manter-se sereno. Não havia palavras preparadas para aquela notícia, nem espaço para argumentos. Ele apenas sorriu de forma breve, com esforço, e disse algo que nem ele mesmo se lembraria depois, e decidiu que era hora de ir embora.
Eles se despediram em silêncio, apenas com um leve toque nas mãos. Tim virou-se, e sem conseguir olhar para trás e sem querer acreditar no que ouvira, caminhou devagar até o portão, não evitando o marejar em seus olhos. Mel o acompanhou com os olhos até que ele sumisse na esquina. Ela também havia sentido em seu coração o significado de todo aquele momento.
Mas ali, naquele instante, alguma coisa ficou no ar, como uma história sem ponto final. Um sentimento que mesmo declinado, jamais se apagaria.
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