quinta-feira, 1 de maio de 2025

Semeadores de Maravilhas, Parte 13 - A Busca

O pai de Tim sorrira diante daquele pedido inesperado. Não era comum ouvir o filho expressar um desejo com tamanha intensidade. Talvez fosse a maneira como disse, ou o brilho novo no olhar. 

Semanas depois, desceram a serra rumo à imensidão de concreto e histórias chamada São Paulo. Seu pai ia à trabalho e decidiu aproveitar para passar um final de semana diferente com a família.

Tim nunca havia saído de sua cidade. Tudo era novo. O barulho dos carros, a pressa das pessoas, os prédios que pareciam tocar o céu. A cidade era imensa, quase intimidante. Mas dentro dele havia um fio de lembrança que o impulsionava a olhar em cada direção, como se Mel pudesse surgir a qualquer momento, vinda de uma calçada, de uma praça, de uma esquina qualquer.

Como irei encontrá-la? pensou, já no primeiro dia, no banco de uma padaria, com o curioso nome de Pérola da Vila Mariana. 

Tim não sabia o sobrenome de Mel, nem o bairro onde morava ou o nome de sua escola. Só sabia que ela morava em São Paulo, que tinha cabelos loiros como o trigo maduro e um sorriso que deixava o mundo mais leve.

Mesmo assim, tentou. Foram ao Parque Ibirapuera, onde ele caminhava devagar, procurando entre as crianças alguma menina que lembrasse Mel. Olhava para cada roda de amigos, cada família sentada no gramado, e esperava reconhecer aquele jeito doce de olhar.

No segundo dia, visitaram o Jardim Botânico, depois a Avenida Paulista, onde tudo parecia girar depressa demais. 

Mas não havia nenhuma pista. À medida que os dias passavam, Tim ia percebendo que talvez fosse como procurar uma estrela específica no céu da noite: possível de imaginar, difícil de encontrar.  Foi aí que se deu conta da imensidão da cidade grande e ficou desapontado.

Chegaram ao último dia da viagem, e sem esperanças, Tim encostou a cabeça no vidro do carro vendo as luzes passarem velozes, sentindo uma decepção que não sabia explicar. Talvez tenha sido a primeira vez que entendia o que era saudade...

Voltaram para casa numa tarde cinzenta, e a estrada parecia mais longa do que na ida. Tim não falou muito. Estava quieto, olhando pela janela, relembrando os passeios e sua busca sem resultado.

Quando chegaram à cidade, o pai lhe apertou o ombro com carinho.

"- Às vezes, a gente encontra as pessoas mais importantes da nossa vida sem saber desse detalhe. E às vezes, elas voltam quando a gente menos espera..."

Tim não respondeu. Apenas sorriu, com aquele sorriso pequeno. E, mesmo sem tê-la encontrado, sentia haver aprendido que algumas buscas valem a pena, mesmo sem um final favorável.

E, numa folha de seu caderno, escreveu o nome dela, porque agora, ela estava na memória de um dia ensolarado, no alto de um mirante, onde tudo começou.

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