quarta-feira, 21 de maio de 2025
Escalas do Destino. Reencontros
sexta-feira, 2 de maio de 2025
Semeadores de Maravilhas, Parte 14 - O Sonho
Naquela noite, Tim teve um sonho diferente dos outros.
Não era uma lembrança exata, nem uma invenção da mente. Era como se memórias e sensações se entrelaçassem em uma espécie de revelação. No sonho, ele estava outra vez no alto do Cristo Redentor, como naquele sábado distante.
O céu azul, pessoas passando por todos os lados, conversas animadas e uma suave brisa acariciando o rosto... e então, no meio de tudo isso, surgiu aquele sorriso que ele nunca se esquecera.
Era ela!!!
Cabelos loiros ao vento e aquele olhar doce, como da primeira vez.
Tim se viu ao lado dela, como se o tempo não tivesse passado, e então ela lhe disse com a mesma voz suave da infância:
- Você me encontrou. Só não sabia que era eu....
Quase que simultaneamente, ouviu a voz de seu pai ecoar:
"- Às vezes, a gente encontra as pessoas mais importantes da nossa vida sem saber desse detalhe. E às vezes, elas voltam quando a gente menos espera..."
Ele acordou num salto, com o coração disparado. Ficou um tempo sentado na cama, tentando entender como não percebera isso antes? Como não ligou os pontos entre a Mel do colégio e a Mel do mirante em sua cidade?
Quase dez anos tinham se passado desde aquele encontro, mas agora tudo fazia sentido.
E ele soube, ali mesmo, que não podia mais adiar. Precisava vê-la imediatamente. E já na noite seguinte, determinado, foi até a sua escola.
As mãos suavam. O coração batia como se anunciasse algo que ele ainda não sabia.
Esperou até avistá-la chegando no pátio. Estava linda, como sempre. Mas havia algo diferente em seu olhar. Um sorriso que parecia carregado de lembranças e de cuidado.
— Tim... que surpresa! disse ela com alegria sincera.
O reencontro foi breve. Os dois se cumprimentaram, trocaram algumas palavras, daquelas que dizem pouco, mas carregam muito sentimento, e Tim abriu seu coração, sem conseguir desviar seus olhos dos dela.
Até que ela soltando suas mãos com a delicadeza de quem não quer ferir, mas sabe que precisa ser honesta, falou:
- Eu... estou namorando agora.
Tim não conseguiu esconder sua dor, mas procurou manter-se sereno. Não havia palavras preparadas para aquela notícia, nem espaço para argumentos. Ele apenas sorriu de forma breve, com esforço, e disse algo que nem ele mesmo se lembraria depois, e decidiu que era hora de ir embora.
Eles se despediram em silêncio, apenas com um leve toque nas mãos. Tim virou-se, e sem conseguir olhar para trás e sem querer acreditar no que ouvira, caminhou devagar até o portão, não evitando o marejar em seus olhos. Mel o acompanhou com os olhos até que ele sumisse na esquina. Ela também havia sentido em seu coração o significado de todo aquele momento.
Mas ali, naquele instante, alguma coisa ficou no ar, como uma história sem ponto final. Um sentimento que mesmo declinado, jamais se apagaria.
quinta-feira, 1 de maio de 2025
Semeadores de Maravilhas, Parte 13 - A Busca
O pai de Tim sorrira diante daquele pedido inesperado. Não era comum ouvir o filho expressar um desejo com tamanha intensidade. Talvez fosse a maneira como disse, ou o brilho novo no olhar.
Semanas depois, desceram a serra rumo à imensidão de concreto e histórias chamada São Paulo. Seu pai ia à trabalho e decidiu aproveitar para passar um final de semana diferente com a família.
Tim nunca havia saído de sua cidade. Tudo era novo. O barulho dos carros, a pressa das pessoas, os prédios que pareciam tocar o céu. A cidade era imensa, quase intimidante. Mas dentro dele havia um fio de lembrança que o impulsionava a olhar em cada direção, como se Mel pudesse surgir a qualquer momento, vinda de uma calçada, de uma praça, de uma esquina qualquer.
Como irei encontrá-la? pensou, já no primeiro dia, no banco de uma padaria, com o curioso nome de Pérola da Vila Mariana.
Tim não sabia o sobrenome de Mel, nem o bairro onde morava ou o nome de sua escola. Só sabia que ela morava em São Paulo, que tinha cabelos loiros como o trigo maduro e um sorriso que deixava o mundo mais leve.
Mesmo assim, tentou. Foram ao Parque Ibirapuera, onde ele caminhava devagar, procurando entre as crianças alguma menina que lembrasse Mel. Olhava para cada roda de amigos, cada família sentada no gramado, e esperava reconhecer aquele jeito doce de olhar.
No segundo dia, visitaram o Jardim Botânico, depois a Avenida Paulista, onde tudo parecia girar depressa demais.
Mas não havia nenhuma pista. À medida que os dias passavam, Tim ia percebendo que talvez fosse como procurar uma estrela específica no céu da noite: possível de imaginar, difícil de encontrar. Foi aí que se deu conta da imensidão da cidade grande e ficou desapontado.
Chegaram ao último dia da viagem, e sem esperanças, Tim encostou a cabeça no vidro do carro vendo as luzes passarem velozes, sentindo uma decepção que não sabia explicar. Talvez tenha sido a primeira vez que entendia o que era saudade...
Voltaram para casa numa tarde cinzenta, e a estrada parecia mais longa do que na ida. Tim não falou muito. Estava quieto, olhando pela janela, relembrando os passeios e sua busca sem resultado.
Quando chegaram à cidade, o pai lhe apertou o ombro com carinho.
"- Às vezes, a gente encontra as pessoas mais importantes da nossa vida sem saber desse detalhe. E às vezes, elas voltam quando a gente menos espera..."
Tim não respondeu. Apenas sorriu, com aquele sorriso pequeno. E, mesmo sem tê-la encontrado, sentia haver aprendido que algumas buscas valem a pena, mesmo sem um final favorável.
E, numa folha de seu caderno, escreveu o nome dela, porque agora, ela estava na memória de um dia ensolarado, no alto de um mirante, onde tudo começou.