Era uma manhã de sábado ensolarada, com cheiro de pão de queijo saindo do forno. A pequena cidade de Tim, encravada na serra da Mantiqueira, despertava preguiçosamente.
Logo nas primeiras horas do dia, Mel chegara com sua família à cidade, para um fim de semana de passeios.
Do outro lado da cidade, Tim mal imaginava que naquele dia o destino estava prestes a lhe entregar um presente. Aproveitando o dia de sol de inverno, seu pai decidiu levar todos para um passeio.
A visita naquela manhã convergiu para o Cristo Redentor. Lá no topo, onde a estátua parece abraçar o céu e o seu olhar alcança todo o vale, Mel se deixou encantar pela paisagem. De um lado, avista-se toda a cidade e se acompanha a subida do teleférico desde o seu ponto inicial e do lado oposto, é possível acompanhar a beleza natural das montanhas e sentir o vento batendo suavemente no rosto.
Ao lado, há um restaurante rústico, com o delicioso aroma de comida caseira dando boas-vindas aos visitantes. Foi ali, entre um gole de refrigerante e um punhado de batatinhas crocantes, que os caminhos de Tim e Mel se cruzaram pela primeira vez. Ambos tinham seis anos.
As famílias, sentadas em mesas próximas logo se cumprimentaram, iniciando uma agradável conversa entre os respectivos pais acerca das belezas locais e dicas para o passeio para aquela animada família que visitava a cidade. Tim observava Mel sem conseguir desviar seu olhar daquela menina de sorriso cativante. Criou coragem, se aproximou meio sem jeito, e pronunciou um “oi” tímido, estendendo a garrafinha de refrigerante, e dizendo: “- aceita um gole?”
Mel sorriu, agradeceu e recusou com gentileza, mostrando que já tinha a sua, e iniciou uma conversa perguntando se ele já conhecera sua cidade, São Paulo, que também tinha parques, praças e segredos que valiam a pena visitar. Tim balançou a cabeça: não conhecia, mas iria pedir ao seu pai para levá-lo um dia.
Enquanto os adultos mergulhavam na prosa em torno da mesa com café, os dois conversavam animadamente no banco ao ar livre, como se já fossem conhecidos de muito tempo. Falaram de cachorros, brincadeiras, da escola... fazendo o tempo parecer ter diminuído a velocidade, enquanto a cidade lá embaixo se movimentava no seu ritmo típico, sem ser notada.
Até que de repente, o pai de Mel a chamou, para que fossem visitar outro ponto turístico. Ela se levantou num pulo, deu um “tchau” com sorriso, acenou e virou-se, indo embora com pressa, mas com os olhos ainda sorrindo, e saiu acompanhada pelo olhar silencioso de Tim vendo-a correr em direção à sua família com os cabelos loiros balançando ao vento.
Poucos minutos depois, foi a vez de Tim ouvir seu nome. Ao se levantar, ainda com o olhar onde Mel havia sumido, o pai lhe perguntou:
- Quem era aquela linda menina com quem você estava conversando?
Tim, sentindo o rosto esquentar, respondeu quase num sussurro:
- A Mel.
E emendou:
- Pai, você me leva para conhecer São Paulo?